O mês de março é lembrado com a cor lilás para conscientizar sobre o câncer do colo do útero. Em Manaus, o Laboratório Municipal de Especialidades Professor Sebastião Ferreira Marinho, com sua equipe de profissionais farmacêuticos especialistas em Citologia, desempenha papel importante na cadeia de detecção da doença, além do acompanhamento de casos.
De acordo com previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 580 casos novos devem ser diagnosticados até o final de 2022, na capital amazonense. Apenas em 2021, mais de 180 mulheres morreram em decorrência do câncer do colo do útero em Manaus. No ano anterior, foram 200 mortes.
Atualmente, o Laboratório Professor Sebastião Ferreira Marinho conta com um quadro de 25 farmacêuticos especialistas. São realizadas, por mês, de 8 mil a 10 mil análises de materiais, que são coletados em mais de 250 Unidades de Saúde, distribuídas entre os distritos Norte, Sul, Leste, Oeste e Rural (terrestre e fluvial), além de cinco Policlínicas - sendo três do estado e duas do município.
A farmacêutica Claudionora Araújo é quem dirige a unidade. Ela ressalta o papel desempenhado rotineiramente pelos citologistas no diagnóstico. “Se aparecer uma lesão ou uma alteração do exame, vamos buscar resultados anteriores. Se houver alteração, entramos em contato com a UBS, sinalizamos sobre a situação dessa mulher. Para validar, o laudo possui duas assinaturas: do escrutinador e do controle de qualidade. Enviamos para as unidades. Sinalizamos para a área técnica do Disa e para a Saúde da Mulher. Já existe todo um fluxo. Solicitamos o atendimento prioritário para essa paciente. A unidade busca essas mulheres e marca o atendimento com o ginecologista. Se necessário, novos exames. As mulheres farão o acompanhamento”, explica.
Claudionora destaca a importância, ainda, da parceria com as unidades de saúde, para um melhor atendimento da mulher. “É fundamental essa parceria com a ponta, com a assistência. Não adianta nada me preocupar em emitir um laudo com rapidez, se esse laudo ficar perdido, se não é feita uma busca ativa. Vamos atrás dessa mulher. Elas (unidades) dão feedback pra gente”.
A farmacêutica alerta que são detectados muitos casos da doença. “Tenho certeza que, daqui poucos anos, poderemos ver um índice mais baixo de câncer de colo de útero em nossa região. O Sebastião Marinho atua como apoio e diagnóstico. Mas não é só o local para onde vem as lâminas. Sabemos que cada lâmina representa uma mãe de família. Em 80% dos casos é uma mulher que sustenta a casa. Nos preocupamos muito com isso. Não queremos essas mulheres morrendo. Queremos sair desse indicador”.
Citologistas
“Quando a gente percebe uma mulher que desde 2015 começou com uma alteração e chega em 2022 já está com o caso evoluído, pensamos no que aconteceu com essa mulher. São vários pré-analíticos que influenciam isso. A gente entrega para a Claudionora e ela pede para chamar essa mulher, para que receba o atendimento. Quando ela chegar ao médico, terá o respaldo de um exame. Destaco isso, porque perdi a minha mãe, quando tinha 15 anos. Na verdade, eu digo que perdi minha mãe com 13 anos de idade, porque eu tinha 13, quando acharam a doença e não fizeram nada. Não tinha nada há 34 anos. Quando chega uma mulher que precisa de atendimento, a primeira coisa que vem na minha cabeça é que essa mulher tem uma filha de 13 anos que vai precisar da mãe, que vai precisar de apoio, conselho, amparo, cobertura e ela vai perder essa mãe se não houver esse atendimento”, reiterou a farmacêutica citologista Márcia Carvalho.
Para a farmacêutica citologista Alyne Brayner, o Sebastião Marinho opera um fluxograma humanizado. “Iniciar no pré-analítico, lá na coleta, porque estamos fazendo treinamento, indo nas unidades. Visualizamos muitos problemas na coleta, ressecamento, coleta mal realizada. A gente sinaliza, vai nas unidades. Tem uma citologista que vai fazer essa orientação. Essa preocupação é para tornar o fluxograma humanizado. Desde o pré-analítico, analítico e pós-analítico, num caso positivo”, explicou.
Exames
O exame preventivo do câncer do colo do útero (Papanicolau) é a principal estratégia para detectar lesões precursoras e fazer o diagnóstico precoce da doença. O exame pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública e sua realização periódica permite reduzir a ocorrência e a mortalidade pela doença.
As células colhidas são colocadas numa lâmina de vidro para análise em laboratório. O material é registrado, encaminhado para a fase de coloração, montagem e são distribuídas para cada citologista fazer a análise. Os laudos são liberados em um sistema, para que possa ocorrer o acompanhamento de cada paciente.
“Somos rigorosos com a qualidade, para um laudo fidedigno. Para minimizar o erro. Até como enviam é cobrado”, afirmou Claudionora.
Políticas Públicas
A farmacêutica citologista Ana Lúcia Santos enfatiza a necessidade cada vez maior de políticas públicas voltadas para mulheres, para que saibam a importância dos exames periódicos para prevenir um câncer de colo de útero.
“Para mudarmos esse quadro de Manaus, do Amazonas, o governo precisa informar, fazer propaganda, campanhas, para que a mulher faça seus exames. De uns anos para cá, começamos a pegar outra população. Sempre foram as mesmas mulheres que foram fazer os preventivos. Não atingia as meninas de 20 e poucos anos, 18 anos. Aumentou muito o índice de positividade. Temos uma característica na nossa região de que há lesão de alto grau em mulheres mais jovens. É na flor da idade. Se o governo não entra, não faz propaganda, não informa que tem que fazer o preventivo, que é de graça, que ela tem esse direito, continuaremos patinando e avançando pouco. Se é isso que vem matando as amazonenses, que mata a manauara, vamos trabalhar nisso muito bem”.